Autor Tópico: As tecnologias que vão alterar o motociclismo  (Lida 850 vezes)

Janeiro 19, 2018, 23:03:43, 23:03
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lmferreira

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Desde início dos tempos que as motos se têm mantido, basicamente, iguais. Duas rodas, motor, acelerador e travões. Com estes quatro elementos conjugados de diferentes formas e feitios, nós, motociclistas, temos desfrutado do prazer único que é conduzir uma moto.
Bom… isto não é totalmente verdade.
Na realidade a tecnologia tem vindo a entrar sorrateiramente no motociclismo e já alterou a forma como conduzimos uma moto.
Sistema de ABS com função “cornering” que nos permite travar com total confiança, mesmo quando estamos em plena inclinação, todos os diferentes tipos de ajudas à condução como controlo de tracção, controlo de deslizamento lateral da roda traseira, controlo do efeito travão motor, o “anti-wheelie” que mantém a roda dianteira colada ao asfalto em plena aceleração, ou suspensões electrónicas que garantem o equilíbrio da moto numa questão de milissegundos.
Mas, nos próximos anos, iremos assistir a um conjunto de mudanças que irão transformar de forma mais profunda a forma como conduzimos uma moto.
Como é que os fabricantes de motos e acessórios vão, mais uma vez, alterar a forma como conduzimos? Simples: através da tecnologia. Vão usar, e abusar, de tecnologias que até há bem pouco tempo apenas existiam nos nossos sonhos. Por isso este é o momento para olharmos para algumas das inovações que esperamos venham a ser realidade nos próximos anos, pois se soubermos o que aí vem, estaremos melhor preparados para aceitar essas mudanças.
Uma das mudanças, provavelmente até a maior de todas, é a forma como as motos comunicam connosco e com os outros veículos com os quais partilhamos as estradas. A comunicação está no centro das atenções dos fabricantes.

Comunicação entre veículos ou “Vehicle-to-Vehicle”
Os sistemas de comunicação entre veículos não são propriamente uma novidade. Mas no motociclismo esta é uma área que ainda agora começou a ser explorada.
Um bom exemplo do que está a ser feito a este nível, é o que a BMW Motorrad tem vindo a desenvolver nos últimos anos. No final de 2017 a marca de Munique mostrou-nos o protótipo R1200RS ConnectedRide, uma moto equipada com uma série de sensores e que se liga a outros veículos para ajudar a evitar acidentes, ou avisar o motociclista de potenciais situações de perigo na estrada mais à frente.
Um dos problemas com os sistemas do tipo do ConnectedRide da BMW, é que a tecnologia não é propriamente fácil de aplicar ao mundo das duas rodas. A dinâmica de uma moto é totalmente diferente de um automóvel ou de um camião, os sistemas de cada fabricante não têm a capacidade de comunicar perfeitamente entre si, e por isso passar da teoria à práctica tem sido quase impossível.

No sentido de ajudar a ultrapassar os problemas de comunicação entre veículos e desenvolver ainda mais esta tecnologia, nasceu o Connected Motorcycle Consortium, uma organização fundada pela BMW, Honda e Yamaha. Entretanto já se juntaram às três marcas fundadoras mais três marcas: KTM, Suzuki e Kawasaki.
O objectivo do Connected Motorcycle Consortium é de conseguir encontrar um sistema de comunicação entre veículos que possa ser utilizado por todos, eliminando as falhas de comunicação que impeçam a aplicação desta tecnologia.
Em breve teremos as nossas motos a enviarem avisos, em tempo real e enquanto as conduzimos, que nos dizem que há problemas na estrada que vamos percorrer. E se nós não reagirmos a tempo aos avisos, a própria moto vai tomar medidas preventivas para evitar uma possível colisão.



Imaginemos que o problema da comunicação entre veículos está resolvido. Como é que os avisos e mensagens nos serão apresentados enquanto conduzimos a moto?
Há alguns sistemas que apresentam possíveis soluções para este problema, para além dos painéis de instrumentos das motos.
Um sistema “head-up display” que transmita as informações necessárias directamente para o campo visual do condutor parece ser a solução mais lógica, e há já alguns fabricantes que trabalharam, ou trabalham, na implementação desta tecnologia com realidade aumentada.
O capacete iC-R - Intelligent Cranium é um bom exemplo de um sistema "head-up display”. Ainda em fase de desenvolvimento, o Intelligent Cranium está equipado com duas câmaras de video que captam a imagem da estrada para trás, projetam-na numa viseira dupla de cristal líquido, que também escurece ao toque de um botão em menos de um segundo. Um sistema de audio integrado permite que, via Bluetooth, exista conectividade com o telefone e com o GPS, enviar comandos por voz e comunicar com outros capacetes.
Um sistema dedicado monitoriza o trânsito através de um LiDAR (um sistema de medição de distâncias e velocidade que utiliza raios laser) para alertar o motociclista, em caso de perigo, se algum veículo de aproximar por detrás a velocidade elevada. O aviso é feito através de vibração e de LEDs instalados no interior, que se acendem em caso de provável colisão.
O capacete Skully é outro sistema “head-up display” que tendo começou como um projecto de “crowdfunding”, reuniu uma boa base de investidores.
O primeiro capacete Skully, o AR-1, conseguia transmitir um conjunto variado de informações ao condutor através da visualização de dados na viseira do capacete. Utilizando uma câmara na traseira do capacete, o Skully AR-1 inclusivamente mostrava em tempo real as imagens do que se estava a passar mais atrás.
A Skully, que inclusivamente chegou a estar ligada em parceria ao grupo Piaggio, através da Aprilia, chegou a fabricar alguns, poucos, capacetes AR-1. Alguns jornalistas americanos tiveram a oportunidade de testar o capacete com sistema “head-up display” integrado na viseira, e apesar de destacarem o factor inovação, a opinião geral foi de que, transmitir as informações directamente para o campo visual do condutor, acaba por se tornar uma distracção.



Eventualmente a Skully acabou por ser vítima dos seus próprios sonhos e a empresa faliu, sob suspeitas de que tudo não passava de um esquema para “sacar” dinheiro aos investidores que acreditavam que o “head-up display” é uma tecnologia a implementar nas motos.
Mas as ideias da Skully ainda sobrevivem, pois já outra “start up” americana mantém viva a tentativa de implementar esta tecnologia em larga escala.

A Nuviz, baseada em São Diego, manteve o conceito de dar as informações aos motociclistas através da projecção de imagens nas viseiras, mas ao contrário da Skully, a Nuviz não fabrica um capacete com “head-up display” integrado, mas aposta num sistema do mesmo tipo mas que é independente do capacete. Ou seja, o “head-up display” da Nuviz pode ser aplicado a qualquer capacete integral.
O menor preço em comparação com o preço que a Skully pedia por um capacete AR-1, e o facto de que pode ser usado em qualquer capacete, logo não necessitamos de ter um capacete especial para usar o Nuviz, fazem com que este “head-up display” esteja a conquistar uma boa base de utilizadores, e mais recentemente a Nuviz transformou-se em parceira do conhecido fabricante de sistemas de intercomunicadores Sena, o que poderá ajudar a massificar a utilização do “head-up display”. (O andar de moto acaba de receber uma unidade Nuviz para teste, e em breve iremos publicar as nossas conclusões).
Qual é o interesse de termos uma moto que anda sem sermos nós a conduzir? Afinal de contas, a beleza de conduzirmos um veículo de duas rodas está na forma como interagimos com ele, como o conduzimos, como nos ligamos a ele, e como exploramos os nossos limites e os da própria máquina.
Mas há fabricantes que podem estar a pensar o contrário!
A BMW já mostrou a sua VISION NEXT 100, um conceito futurista que integra uma série de ideias que podem perfeitamente vir a ser postas em prática num futuro próprio.

A Honda é outro desses fabricantes. Há um ano, o maior fabricante de motos do Mundo mostrou-nos o primeiro protótipo Honda Riding Assist, e mais recentemente, no Salão de Tóquio de 2017, a marca japonesa revelou uma segunda versão do sistema, mas desta feita equipada com um motor eléctrico.
O grande destaque neste protótipo era a forma como se conseguia equilibrar sozinho, que é como quem diz, uma moto que não cai.
Sem a utilização dos pesados giroscópios que habitualmente são utilizados para equilibrar um objecto, e apenas através de pequenas correções na direcção e alterando o posicionamento da forquilha, o Honda Riding Assist permite que a moto se equilibre sem que o condutor necessite de fazer que quer que seja para manter as duas rodas coladas ao solo e na vertical.
Mais do que se auto-equilibrar, o protótipo Honda mostrou uma outra funcionalidade: condução autónoma.
Na realidade, o Honda Riding Assist não é totalmente autónomo no sentido de que pode circular na estrada sem condutor. Os vídeos mostram a moto a seguir o proprietário a baixa velocidade, como se fosse um cão a seguir o dono. Mas este é apenas o primeiro passo para que uma moto com condução autónoma passe a ser realidade.
Está claro que uma moto com funcionalidade de condução autónoma ainda está longe de ser uma realidade. Não é apenas o facto de ter de se criar um sistema que mantenha a moto direita em qualquer situação, mas, mais uma vez, o maior problema será a comunicação da moto com a rodovia e com outros veículos e condutores.



Também a Yamaha, quer através da Motoroid, que reclama capacidades de cauto equilíbrio e reconhecimento biométrico do seu utilizadot, quer através do projecto Motobot, um robot capaz de consuzir uma moto perfeitamente convencional está na corrida para um futuro onde a condução assistida é cada vez menos uma utopia, e cada vez mais uma probabilidade.
Actualmente, o cérebro humano continua a ter inúmeras vantagens sobre os sistemas informáticos que possam ser usados nestas tecnologias. Os seres humanos, e mais concretamente os motociclistas, conseguem ter um discernimento muito superior do que acontece em tempo real enquanto conduzem uma moto, tomando decisões em milésimos de segundo para evitar problemas. Mas há factores externos que podem influenciar as decisões humanas, enquanto que os processadores informáticos dificilmente cometem erros, e não estão sujeitos nem a fadiga, nem a emoções.

Estes são apenas alguns exemplos de tecnologias que vão, ou poderão alterar profundamente a forma como encaramos a condução de uma moto. Algumas das tecnologias podem estar mais perto de se tornarem realidade do que outras, algumas até podem nem sequer passar da teoria à prática.
Mas vivemos numa época em que praticamente não existem limites para o génio humano, e até, mais cedo do que pensávamos, podemos vir a ter motos voadoras. Sim, é verdade! No Dubai a polícia já testa um protótipo de moto voadora!
A verdade dos factos é que estas tecnologias vão modificar a forma como conduzimos uma moto. A questão que se coloca perante o futuro tecnológico é: será que estamos prontos para aceitar estas mudanças?



Fonte: andardemoto.pt