Autor Tópico: O local de fabrico de um motociclo é ou não importante?  (Lida 1939 vezes)

Agosto 04, 2018, 00:57:34, 00:57
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Sapiens21

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O local de fabrico de um motociclo é ou não importante?






Perante este título por certo se colocam muitas interrogações, vendo-as eu como perfeitamente legítimas.

Os mais perspicazes irão questionar-se sobre o que poderá significar a dita "importância", até porque contextualizar pode evitar a dispersão da opinião.

É importante pelo quê??

Pelo preço conseguido, pela qualidade apresentada, por se manter fiel ao passado no seu local de origem ou invés de ser fabricada noutro lado, por se entender que acabam por ser melhores produtos, porque a deslocalização só trás problemas e fábricas fechadas, porque uma marca perde um bocado a sua "identidade" e associação ao que foi outrora, porque a mão-de-obra não tem o mesmo nível de especialização em todo o lado, porque se entende que há cortes no controlo de qualidade do produto em certas partes do Mundo e não as há noutros??

Mas...por outro lado, agrilhoar o tema com um só destes focos, confesso que poderia também ditar o seu desinteresse e limitar excessivamente a temática.

Como tal, nada como ter pelo menos um ponto de partida, mas mantendo-o abrangente q.b...

E aqui para o caso em concreto decidi utilizar um comentário que já tem bastante tempo (muito mesmo), mas que me chamou particularmente à atenção ao ponto de me fazer criar o presente tópico e questionar a massa de membros sobre o tema.

O comentário (deixado inalterado na sua língua original), é este:

"I want to go on the record as saying that I will not buy a Triumph manufactured in Thailand or anywhere else besides Great Britain.

To me that would be like buying a Cadillac made in China, a BMW made in India, or a Land Rover made in Mexico. Makes no sense to me at all.

And I realize that parts are already sourced globally for all makes but I have an opinion and will vote with my wallet.

I don't care how logical it is to do so, they are going to lose customers who love the Triumph traditions big time."



Ora este tipo de opinião acredito que terá os seus defensores (até se calhar por experiências menos boas a sustentar a sua convicção), havendo igualmente aqueles que pensam exactamente ao  contrário...justificando na sua opinião que o melhor que as marcas fizeram foi produzirem noutros locais.

Com tantas fábricas a operar pelo Mundo (China, Índia, Tailândia, Malásia, Brasil, Indonésia, Filipinas,etc...) e desses mesmos locais a saírem milhares de motociclos de marcas tão conhecidas quanto a KTM, Triumph, BMW, Piaggio, Honda, Yamaha, Suzuki, Kawasaki, Harley), qual a importância, ou simplesmente a opinião que se tem presentemente, sobre o local onde p.ex. o motociclo que se adquiriu foi produzido?

Imaginemos uma moto da KTM como aquela que coloquei na imagem que encabeça este tópico.

Se a um qualquer cliente fosse dada a possibilidade de escolha do local de proveniência da sua moto, como seria e que importância daria a isso?

Preferiria que a mesma viesse directamente de uma fábrica Austríaca, optaria por aquela que é fabricada nas Filipinas como se vê nessa mesma imagem, ou..."estava-se nas tintas" por assim dizer, querendo no fundo é que a mesma viesse ao preço mais baixo possível?


O tópico, como sempre, está à vossa disposição... ;)
"Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres humanos são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas para satisfazê-los.
Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro."

Dalai Lama

Agosto 04, 2018, 03:49:24, 03:49
Responder #1

dfelix

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Existem regiões do globo mais adequadas á industria que outras.
Políticas fiscais, custos de mão-de-obra e infra-estruturas, acesso a matérias primas, posicionamento favorável á distribuição, etc.
Podemos concluir que deslocar a produção é uma excelente estratégia para produzir mais por um menor custo.

Um construtor só existe se houver mercado para os seus produtos.
E cada vez mais produtos são fabricados fora da origem do construtor.
Podemos concluir que a deslocalização está a ser uma estratégia favorável.

Um produto ser fabricado na mesma origem do seu construtor reforça a sua autenticidade.
Sobretudo para aqueles que ao longo da história obtiveram aquilo que chamamos de "imagem de marca".

Uma das abordagens adoptadas pelos construtores de forma a manter a sua notoriedade é a de insistirem que a marca não abdicou da sua origem.
Que deslocaram a sua indústria, mas não deslocaram a nacionalidade...
E isto até tem funcionado bem.


No entanto, nestes últimos anos temos assistido a uma tendência que vai bem mais longe que uma simples deslocalização da produção!
Refiro-me ás parcerias em que construtores com uma "imagem de marca" forte e estabelecida emprestam o nome aos produtos de outros com menor notoriedade.

Keeway com o logo da Benelli.
TVS com o logo da BMW. 
Brevemente teremos Bajaj com o logo da Triumph. Zongshen com o logotipo da Norton.
E certamente irá surgir mais.

Agosto 04, 2018, 08:39:42, 08:39
Responder #2

Cross

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Este tópico talvez tenha sido o mais comum de todas as reuniões C level de estratégia longo prazo ou até S&OP nos ultimos anos de todas a empresas no mercado concorrencial de uma maneira ou de outra.

Nos motociclos, acrescentaria os Português como ponto de discussão... um nicho de produção que luta para resistir e porque não mais?
Não existe t€mpo ou será algo mais?

Que fazer...
Os existentes... delocar ou morrer... Japoneses, Europeus e Americanos
Outros criou oportunidade novas... Benelli, Mash, Brixton, centrnas... etc...
Outros necessito de capacidade se quero crescer...

A Apple atingiu o trilhão de dolares esta semana, primeira empresa a fazer isso... totalmente manufacturada fora de portas... portanto modelo de negócio totalmente falhado duuhhh... será que nas motos é assim tão diferente?!?!


Dei o exemplo da numero um da Europa nos motociclos KTM e a sua politica de expansão devido a sua capacidade limitada. Outras já o fizeram mas o diabo está nos detalhes.

Uns são, completamente contract manufactures. Ou seja toma lá o boneco e faz...

Outros são, toma lá tudo o que necessitas, motores, componentes...

Outros são, fazemos parcerias que tem contrapartidas mas desenvolvimento conjunto ou partilha de knowhow.



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Bom Senso e Senso Comum nunca fez mal a ninguém!

Agosto 04, 2018, 09:39:27, 09:39
Responder #3

2low

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Não li ainda o que escreveram para aqui mas por exemplo no caso das Kawasaki ER6F/N com fabrico entre 2009 e 2011 havia um problema sério de fiabilidade do motor e mais algumas peças no modelo fabricado na Tailândia para mercado próprio e para exportação para a India - a qualidade do ferro era tão má que era "normal" os "pistons arrebentarem" - já as de fabrico na Korea e Japão sem quaisquer problemas.

Como em tudo, o que hoje é assim, amanhã será diferente... e portanto não quer dizer que as Kawasaki com fabrico na Korea e Japao continuem com a mesma qualidade.
Pelo menos para mim é uma incognita por nao ter um modelo mais recente dessa marca...

Mas sim, o local de fabrico pode ser bem importante!
Grão a Grão, Comemos Feijão!
E sempre com boa disposição!

(na realidade dá gozo puxar por ela pelo que é de contar uns 6Lt/100km)

Agosto 04, 2018, 19:59:23, 19:59
Responder #4

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(....)no caso das Kawasaki ER6F/N com fabrico entre 2009 e 2011 havia um problema sério de fiabilidade do motor e mais algumas peças no modelo fabricado na Tailândia para mercado próprio e para exportação para a India - a qualidade do ferro era tão má que era "normal" os "pistons arrebentarem" - já as de fabrico na Korea e Japão sem quaisquer problemas.

(....)

Sim...esse ponto é relevante.

Existem fábricas de uma mesma marca a fabricar os mesmos modelos em diferentes partes do globo e enquanto uns são destinados a uns países, outros são para mercados internos ou próximos e que para o caso diria como...gigantes (Brasil, Argentina, Colômbia).
A maior parte do consumo destas unidades será interno, mas de certeza que muitas vão parar a outros países do enorme continente sul-americano.


A BMW p.ex. investiu muito forte numa fábrica em Manaus, no Brasil.

Creio que noutro tópico tinha desenvolvido mais isto. Não tenho a certeza.  :nice:



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Dalai Lama

Agosto 05, 2018, 00:07:27, 00:07
Responder #5

dfelix

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Nos motociclos, acrescentaria os Português como ponto de discussão... um nicho de produção que luta para resistir e porque não mais?
Não existe t€mpo ou será algo mais?

A produção nacional de motociclos (ciclomotores) só existiu enquanto a conjuntura foi favorável.
Ou seja, enquanto foi um país com fronteiras fechadas e vedado à concorrência.

Poderia marcas como a AJP enriquecer o seu catálogo com melhor oferta deslocando a sua produção para o oriente?
Certamente que sim.
Mas, á semelhança do que acontece nos restaurantes... este tipo de "industria" são geridos como "negócios de família".


A BMW p.ex. investiu muito forte numa fábrica em Manaus, no Brasil.

São "vizinhos" da Triumph.
Manaus oferece condições muito atractivas para o investimento estrangeiro na indústria.
Porém, com contrapartidas que obrigam á utilização de componentes "made in Brasil" de forma a estimular a economia nacional.

A Triumph optou por montar "kits" introduzindo apenas coisas básicas fabricadas localmente.
A BMW optou por fabricar mesmo boa parte, importando as motorizações electrónicas. Daí chegar a ter mesmo alguns produtos orientados ao mercado brasileiro... como o caso da Sertão que chegou a ser exportada para a Europa:



Dezembro 15, 2018, 14:39:25, 14:39
Responder #6

Sapiens21

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Como nota de curiosidade aqui para o tópico, a parceria entre a Indiana TVS e a BMW, já levou a que fosse atingido um marco em termos de produção de motores para as novas "310".


Link
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Dezembro 15, 2018, 14:54:05, 14:54
Responder #7

Nuno YB

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Se pegarem numa japonesa, italiana, inglesa, austríaca, alemã ou, até mesmo americana, recentes e a desmontarem, peça por peça, chegam á conclusão que a moto não é nem japonesa, nem italiana, nem inglesa, nem austríaca, nem alemã, nem americana, nem chinesa, nem indiana, nem brasileira, nem a pata que pariu.

As peças com que é montada são provenientes dos mais variados países, alguns deles sem qualquer experiencia no mundo das motos. Na minha opinião, o que fará a diferença é a qualidade da montagem, saber que peças meter em que moto. Se os indianos são piores nisso que os ingleses, ou se os tailandeses são melhores que os austriacos? Seguindo a tradição de rigor, os europeus são melhores... ainda assim, já tive um Rover que abanava por todos os lados, tinha uma montagem de cócó...
Certas pessoas são como aquelas molas mágicas: não servem para quase nada, mas é sempre engraçado atirá-las pelas escadas abaixo...

Dezembro 15, 2018, 15:02:24, 15:02
Responder #8

Moto2cool

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Nuno tens toda a razão, não só nos motociclos como na indústria em geral. Mas explicar isso a alguns fanáticos do Japão ou da Europa é impossível.
Spritmonitor.de" border="0 Suzuki VStrom 650
"Viver a vida não é esperar que a tempestade passe, é aprender a andar à chuva"

Dezembro 15, 2018, 15:12:56, 15:12
Responder #9

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A "componente" do fanatismo torna sempre tudo bastante difícil de entender. :)

O problema não está na explicação, mas sim na capacidade de assimilar aquilo que é dito. Na maioria dos casos é desgastante e.... não vale a pena.

Neste tópico demonstrei inclusivamente que mesmo as marcas mais conhecidas produzem (há anos) em fábricas próprias, na China, Vietnam, no Brasil, na Turquia, na Índia, na Argentina....etc...

Ok....alguns dos modelos por lá produzidos são para "consumo interno", mas nem todos.

E depois há a questão das parcerias...

Só algumas marcas e para alguns modelos da sua gma, se dão a produzir nas fábricas do país de origem.

A rentabilidade do produto (e dos accionistas, claro) é algo que leva a este tipo de parcerias e produção noutros países, seja em fábricas próprias ou não.
« Última modificação: Dezembro 15, 2018, 15:14:09, 15:14 por Sapiens21 »
"Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres humanos são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas para satisfazê-los.
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Fevereiro 17, 2019, 10:35:43, 10:35
Responder #10

2low

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Dentro da temática deste tópico e sem necessidade de se criar novo tópico especifico, não sei se já aqui foi publicado este vídeo mas a questão que lanço com o vídeo é:
"a produção robotizada, a produção mista ou a produção totalmente manual tem efeitos directos na fiabilidade de uma moto?"

Grão a Grão, Comemos Feijão!
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Fevereiro 19, 2019, 00:41:55, 00:41
Responder #11

dfelix

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A que te referes exactamente com fiabilidade?

Há muitos testes de qualidade que são feitos quase exclusivamente com máquinas.
Sobretudo por exigirem acções que podem ser programadas para serem repetidas de igual forma sempre que se entender. E cujos resultados possam ser depois tratados informaticamente.

Desta perspectiva pode-se considerar que pode ter efeitos na fiabilidade.