Autor Tópico: Estudo da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária – “2 rodas” a motor  (Lida 3145 vezes)

Abril 05, 2017, 12:37:28, 12:37
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JViegas

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Em virtude de querer aprofundar conhecimentos relativamente à segurança e circulação de veículos em duas rodas, tenho pesquisado on-line, por diferentes entidades, tendo encontrado um documento disponível para leitura no site da ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, e que é referente a um estudo realizado à circulação rodoviária em “2 rodas” a motor e publicado no site em 2014.

Alguns já o conhecerão ou leram, mas outros companheiros poderão ainda não ter tido oportunidade de o ler.
O link:
http://www.ansr.pt/Estatisticas/FichasTematicas/Pages/default.aspx
(Clicar em “Ano 2014” e clicar no documento “2 Rodas” a motor, que abrirá em formato pdf.)



Deixo-vos igualmente alguma informação que retirei de lá e que será importante refletir:

1º A circulação de veículos de “2 Rodas” a motor, de acordo com vários estudos, pode ser benéfica para o desenvolvimento de uma mobilidade sustentável, especialmente em meio urbano, desde que as vantagens daí decorrentes compensem alguns inconvenientes, sendo que um deles se prende, precisamente, com a sinistralidade rodoviária.

2º A maior vulnerabilidade dos utentes de “2 Rodas” resulta da combinação de diversos fatores: uns associados às características do próprio veículo, como a menor proteção, visibilidade e estabilidade, e outros ao comportamento dos seus condutores, designadamente, aquele que é induzido pelas particularidades destes veículos e que pode surpreender os outros condutores pelo facto de ser atípico (ultrapassagens em espaços reduzidos, etc.)
As dificuldades e riscos intrínsecos à condução dos veículos de “2 Rodas”, no entanto, não devem constituir um impedimento à sua circulação, mas antes serem aspetos a ponderar com especial atenção com vista a fomentar a sua segurança.

3º Numa perspetiva temporal, o maior número de vítimas concentra-se nos meses de maio a setembro (51% dos condutores mortos, 52% dos feridos graves e 49% dos feridos ligeiros), isto é, aumenta significativamente em maio, atinge valores máximos em julho e agosto e começa a descer a partir de setembro.

4º No que respeita aos dias da semana, destacam-se o sábado e domingo, sobretudo em relação às vítimas mortais e feridos graves - 43% dos condutores de “2 Rodas” mortos e 37% dos gravemente feridos ocorrem ao fim de semana.

5º Quanto às horas do dia, cerca de 1/4 das vítimas resulta dos acidentes verificados entre as 18 a as 21 horas: 25% dos condutores mortos e feridos graves e 22% dos feridos ligeiros.

6º Geralmente mais pequenos e frágeis do que os outros veículos, em resultado da ausência de carroçaria, os veículos de “2 Rodas” a motor não oferecem qualquer proteção aos seus ocupantes, em caso de acidente ou queda e, consequentemente, a probabilidade destes sofrerem ferimentos é bastante elevada.

7º A utilização do capacete de proteção, de modelo homologado, é obrigatória, tendo em conta que as lesões na cabeça são frequentes e representam a principal causa de morte destes utentes, embora também se aconselhe o uso de blusões e outras peças de material resistente, como luvas e botas. Este tipo de equipamento pode reduzir consideravelmente a gravidade dos ferimentos e protege os seus utilizadores das más condições meteorológicas (vento, chuva, frio, etc.), proporcionando-lhes maior conforto.

8º Fruto da sua dimensão, os veículos de “2 Rodas” apresentam uma visibilidade reduzida o que, frequentemente, leva a que os outros condutores não se apercebam da sua presença. Daí que além da obrigatoriedade de circularem com os médios acesos, mesmo durante o dia, se recomende como medida adicional a utilização de vestuário fluorescente e de material retrorrefletor, por forma a tornarem-se mais percetíveis. Com efeito, um aspeto que é apontado inúmeras vezes como estando na origem dos acidentes com veículos de “2 Rodas”, principalmente em interseções, é o de não serem vistos pelos restantes condutores.
Devem, ainda, ter um cuidado especial com o posicionamento na via, mantendo-se afastados dos "ângulos mortos" dos veículos que seguem à sua frente, e evitar deslocar-se entre filas de veículos parados ou que transitem a uma velocidade reduzida. É perigoso e interdito pelo Código da Estrada.

9º A fim de contornar estes condicionalismos, os seus condutores devem circular a uma distância dos outros veículos que lhes permita ter, não só uma visão abrangente e correta do estado de conservação do piso, como também tempo e espaço para agirem perante situações imprevistas. Neste contexto, a velocidade e a distância que mantêm em relação aos restantes veículos são os fatores mais críticos para a sua segurança.

10º De acordo com a literatura existente sobre a matéria, os condutores de veículos de “2 Rodas” a motor tendem a adotar uma condução arriscada, pautada, sobretudo, pela realização de manobras perigosas e a prática de velocidades inadequadas. Como explicação para este comportamento apontam-se, geralmente, o excesso de confiança e consequente subavaliação dos riscos, bem como uma perceção incorreta das situações, nomeadamente em relação às infraestruturas.
Por outro lado, face à prevalência da população mais jovem entre os condutores (sobretudo de motociclos), há que ter presentes algumas características naturais nestas idades, como sejam a falta de experiência e pouca preocupação com as normas de segurança.
No sentido de contrariar estes aspetos, indicam-se como medidas essenciais o reforço da fiscalização, a educação e, evidentemente, a formação dos condutores. Esta última deve dispensar especial atenção ao comportamento e alertar para a necessidade de aumentar a cooperação e o bom relacionamento entre estes condutores e os automobilistas, já que as circunstâncias em que ocorrem os acidentes resultam, frequentemente, de uma interação problemática entre estes utentes. 

11º As ações de informação e sensibilização, ao procurarem incutir comportamentos mais adequados e responsáveis, são igualmente fundamentais.




E agora…só para lançar a discussão saudável, pegando nos dois últimos pontos que destaquei em cima:

“Os condutores de veículos de “2 Rodas” a motor tendem a adotar uma condução arriscada, pautada, sobretudo, pela realização de manobras perigosas e a prática de velocidades inadequadas.”

Pergunta:
Verdade? Mentira? Ou às vezes acontece ir-mos mais depressa?

“No sentido de contrariar estes aspetos, indicam-se como medidas essenciais o reforço da fiscalização, a educação e, evidentemente, a formação dos condutores.”

Pergunta: Faz mais falta a fiscalização ou a formação, considerando que fiscalização será mais do que o controlo de velocidade e a formação mais do que a necessária para ter a carta de condução?
« Última modificação: Abril 05, 2017, 12:39:25, 12:39 por JViegas »

Abril 05, 2017, 13:41:40, 13:41
Responder #1

pjmartinho

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“Os condutores de veículos de “2 Rodas” a motor tendem a adotar uma condução arriscada, pautada, sobretudo, pela realização de manobras perigosas e a prática de velocidades inadequadas.”

Pergunta:
Verdade? Mentira? Ou às vezes acontece ir-mos mais depressa?

Parece-me que a questão da velocidade a mais é transversal a todas as idades. Talvez os jovens o façam com mais frequência e em zonas mais complicadas, onde o bom senso e a experiência/tarimba na condução fazem com que condutores mais "velhos" andem mais devagar.

Por outro lado, a facilidade com que uma mota atinge velocidades "ilegais" é bastante grande e o movimento do punho para atingir essas velocidades é bastante inferior ao movimento que se tem de fazer com o pé, no caso de se ir de carro.

Por mim falo pois faço com frequência o troço de auto-estrada entre Lisboa e o Fogueteiro e quase sempre penso "hoje vou devagar... 120Kms é mais que suficiente" e quando dou por mim o ponteiro está para lá dos 160 mas, quando entro numa localidade, ou o trânsito se adensa, a minha velocidade baixa drasticamente, sendo raro o numero de vezes que passo entre os carros embora veja com alguma frequência outros motociclistas que andam entre os carros como se fossem numa faixa só deles.

“No sentido de contrariar estes aspetos, indicam-se como medidas essenciais o reforço da fiscalização, a educação e, evidentemente, a formação dos condutores.”

Pergunta: Faz mais falta a fiscalização ou a formação, considerando que fiscalização será mais do que o controlo de velocidade e a formação mais do que a necessária para ter a carta de condução?

Penso que faz mais falta a formação do que a fiscalização. É claro que a fiscalização deverá existir sempre (haverá sempre alguém que irá prevaricar), mas não nos moldes do presente pois só tem como unico objectivo engordar os cofres do estado.

Quando comecei a andar de mota à cerca de 2 anos atrás, a primeira coisa que fiz foi ir fazer o curso de condução na escola de pilotagem da Honda. 1 ano depois tirei a carta e posso dizer que aprendi mais aspectos práticos da condução de motas no curso que fiz, do que nas aulas de condução.

Penso que não faria mal a nenhum condutor se, de 6 em 6 anos (ou com outra periodicidade qualquer) tivesse de fazer uma reciclagem dos aspectos práticos da condução, e também do código.

Abril 05, 2017, 14:19:51, 14:19
Responder #2

dfelix

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Existem mais acidentes de verão.
E ocorrem sobretudo aos fins de semana.
Dá perfeitamente para entender que os acidentes são predominantes na utilização do motociclo enquanto veículo de lazer.

E isto acaba por responder à primeira questão:
Numa utilização de "lazer" a tendencia é usufruir ao máximo do prazer que o veículo de duas rodas proporciona.
O que em muitos casos corresponde a um tipo de condução que pode acrescentar algum risco.

Quanto a fiscalização e formação... tudo isso já existe.
Ninguém pode se queixar que não existe informação. Há internet, forums, redes sociais.
O acesso á carta de condução de motociclo tem mais passos intermédios, patamares por idade e tempo de carta, exames pelo meio, etc.
E tendo em conta a quantidade de radares fixos espalhados pelo país, assim como o encaixe contemplado no Orçamento de Estado obtido resultante do controlo de velocidade torna-se absurdo sequer considerar que existe pouca fiscalização.



Abril 05, 2017, 17:16:32, 17:16
Responder #3

Moto2cool

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O uso contínuo da mota, no dia a dia, dá mais segurança porque se conhecem
melhor as manhas. Ganha-se mais rapidamente prática e sabe-se melhor até onde se pode ir. A condução de lazer está mais associada ao exibicionismo, à competição, à distração. Logo a mais comportamentos de risco.
Nos carros é a mesma coisa, rapidamente se percebe quem​ anda na semana de carro ou de passe.
O pico dos acidentes é paralelo ao número de motas na estrada, por isso no inverno que é muito mais perigoso existem menos acidentes, porque há menos motas na estrada e as que andam é pessoal que domina a matéria senão não arriscavam.
A formação para mim é pouco relevante, todos sabem os limites, mas escolhem não os respeitar.
Contra mim falo, desde que se perdem pontos passei a não dar mais de 10. numa estrada com limite de 70 ( os 30 para infracção grave) mesmo sabendo que a estrada tem estrutura de IP/AE. (Pessoal do porto conhece a via norte). Por isso a fiscalização é a única forma que pode reduzir a velocidade ( o que não quer dizer reduzir os acidentes)
« Última modificação: Abril 06, 2017, 07:13:52, 07:13 por Moto2cool »
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"Viver a vida não é esperar que a tempestade passe, é aprender a andar à chuva"

Abril 05, 2017, 18:02:01, 18:02
Responder #4

pjmartinho

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Quanto a fiscalização e formação... tudo isso já existe.
Ninguém pode se queixar que não existe informação. Há internet, forums, redes sociais.

Formação e informação são coisas diferentes. A informação pode ser obtida de forma fácil e simples, como foi dito, pela internet, foruns e, acrescento, a literatura mas isto por si só não vale de muito, pois não passa de teoria. A formação, que forçosamente tem de englobar teoria, também tem uma componente prática e isso faz uma grande diferença.

Existe um conceito que foi desenvolvido inicialmente nos anos 60 do século passado, e que tem sido desenvolvido com o passar do tempo, e que chama "Learning Pyramid", ou a Pirâmide de Aprendizagem. Básicamente, o que este conceito diz é o seguinte:
  • Uma pessoa retem cerca de 75% da informação, quando coloca imediatamente em prática a teoria aprendida,
  • Uma pessoa retem cerca de 30% da informação, quando assiste a uma demonstração da teoria,
  • Uma pessoa retem cerca de 10% da informação, quando a aprendizagem é feita através de leitura.
ou seja, embora a leitura seja uma coisa boa e de louvar, uma pessoa necessita de investir 7,5h do seu tempo para reter a mesma quantidade de informação que se consegue com 1 hora de formação.

Claro que por muita formação que se dê, os acidentes vão continuar a acontecer, pois são uma coisa inesperada (por isso mesmo se chama acidente). Com mais formação, se calhar, uma grande parte dos acidentes poderão ser evitados pois os condutores (de carros ou motas, é indiferente) não se "põem a jeito".

Abril 05, 2017, 23:26:26, 23:26
Responder #5

dfelix

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Formação e informação são coisas diferentes.

Daí o parágrafo não só falar de informação... como também a parte que não citaste sobre a formação.  ;)
Isto considerando que a teoria e prática exigida para obtenção da carta se considere como formação, claro.

E actualmente o modelo é bastante mais exigente.

Quando tirei carta, o mesmo código era válido para B e A. E os averbamentos eram automáticos quando se atingia a idade ou o tempo de carta necessário.
Hoje há exames de código e teoria específicos para motociclismo e subir de categoria é necessário auto-propor e efectuar exame prático.

...ou seja, embora a leitura seja uma coisa boa e de louvar, uma pessoa necessita de investir 7,5h do seu tempo para reter a mesma quantidade de informação que se consegue com 1 hora de formação.

Hoje em és bombardeado com a informação.
Mesmo que queiras evitar acabas por levar com doses massivas de informação de consciencialização e perigo.
(Bastou entrar aqui no fórum e os tópicos recentes por ler eram sobre um acidente, sobre rails e este sobre segurança rodoviária)

Sinceramente, nos dias de hoje quando acontece algo por falta de consciência ou noção do perigo não é acidente... é Darwin a provar que estava certo!  :)


Abril 08, 2017, 01:17:44, 01:17
Responder #6

Sapiens21

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Excelente tópico que aqui trazes, Jviegas.  :nice:

O estudo é revelador de uma realidade que não me espanta nas suas conclusões, mas que não deixa de fazer refletir.

Em menos de metade dos meses de um ano, são esses - os indicados no estudo - aqueles em que se cometem mais excessos, onde existe mais confiança...em que circulam mais motociclos.

A prudência dos meses de Inverno facilmente dá lugar a alguma imprudência no Verão.... :-X
"Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres humanos são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas para satisfazê-los.
Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro."

Dalai Lama

Abril 08, 2017, 23:02:55, 23:02
Responder #7

dfelix

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A prudência dos meses de Inverno facilmente dá lugar a alguma imprudência no Verão.... :-X

A prudência dos meses de Inverno na maior parte dos casos faz-se com a moto a hibernar na garagem...



Abril 08, 2017, 23:28:40, 23:28
Responder #8

Luis Salgueiro

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A prudência dos meses de Inverno facilmente dá lugar a alguma imprudência no Verão.... :-X

A prudência dos meses de Inverno na maior parte dos casos faz-se com a moto a hibernar na garagem...

Há malta que transpira prudência por todos os poros , é só ver o mercado de usados e as 'paletes' de motas que têm pouco mais de 10.000 kms já com mais de 10 anos de 'vida' . 

Abril 09, 2017, 00:03:06, 00:03
Responder #9

dfelix

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Há malta que transpira prudência por todos os poros , é só ver o mercado de usados e as 'paletes' de motas que têm pouco mais de 10.000 kms já com mais de 10 anos de 'vida' .

Não vás por aí...
Já reencontrei nos classificados duas motos que foram minhas... e com bastante menos quilómetros do que quando as vendi.  :D

Abril 09, 2017, 15:13:17, 15:13
Responder #10

Moto2cool

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A prudência dos meses de Inverno facilmente dá lugar a alguma imprudência no Verão.... :-X

A prudência dos meses de Inverno na maior parte dos casos faz-se com a moto a hibernar na garagem...

Quem sou eu para julgar os outros? cada um faz o que bem entende, mas usar a mota só no verão, ou no tempo seco, é como viver a vida só a beber água, porque é inofensiva. As vezes uma coisa mais forte dá outro sabor à vida  :bejeca:
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